"Muito já se falou. Muito já se escreveu. Mas a experiência é única, e é minha... assim como também são únicas, e minhas, as minhas impressões digitais. Não as das minhas mãos, mas, as das solas dos meus pés" (Josué C. de Oliveira)



terça-feira, 4 de maio de 2010

"A Mística do Caminho de Santiago"

Afinal, o que torna o Caminho de Santiago tão diferente de qualquer outro caminho?
Esta é uma pergunta que me tem sido formulada desde que concluí a minha jornada.
 Respondo então. O que o torna tão diferente é a intenção e a energia deixada por aqueles que aceitam o convite para percorre-lo livremente... em toda a sua extensão. Ninguém vai ao caminho sem que, intimamente, já não o esteja percorrendo.
A pergunta que se segue é velha conhecida. Como posso percorrer um caminho sem ter estado lá antes?
Para iniciar a sua jornada não é necessário estar no caminho fisicamente. Numa jornada deste tipo, são as suas inquietudes e os seus questionamentos que produzem os elementos necessários para colocá-lo no caminho. Caminho este que, num dado momento, se torna o centro da sua própria existência. Quando isso acontece a sua jornada espiritual já se iniciou... você já está no caminho, então, percorre-lo fisicamente é só uma questão de tempo.
   O que você encontrou no caminho? Esta é a pergunta que normalmente sucede a anterior.
A jornada me remeteu a três momentos distintos. Num primeiro momento fui movido pela ansiedade da partida, tomado que estava pelo espírito de aventura, ansioso para ver o que iria se revelar no decorrer da caminhada... o que me estava reservado logo após a próxima curva. Num terceiro momento, ao me aproximar do final da jornada, fui movido pela ansiedade da chegada, sob a perspectiva de poder saborear a deliciosa sensação de ter vencido o grande desafio, de saber que fui capaz de realizar um projeto grandioso em minha vida e, sobretudo, a possibilidade de voltar para casa e rever as pessoas que amo.
A grande experiência é reservada para o segundo momento. Este segundo momento passa a existir quando o primeiro já deixou de exercer os seus efeitos, e a força de ânimo contida no terceiro ainda não pode ser sentida. Nesse momento, muito longo vale frisar, percebi que, além da mochila presa as minhas costas, dava carona a outros dois indivíduos.
O primeiro assentava-se sobre o meu ombro direito. Era um Anjo que, falando mansamente ao meu ouvido, me estimulava a dar o passo seguinte. O segundo, sentado sobre o meu ombro esquerdo, era um demônio que gritava o tempo todo em meu ouvido, plantando em meu coração o desânimo e a sensação de que eu seria incapaz de vencer o desafio.
Com o passar do tempo aprendi a administrar e a compreender o aspecto dual da existência humana. Lembrei da aula de física cujo enunciado diz: "o universo equilibra-se perfeitamente entre as forças de atração (força positiva) e repulsão (força negativa). É, pois, no embate constante entre estas duas forças antagônicas que o universo inteiro alcança o seu ponto de equilíbrio.
Para aquele que peregrina, o equilibrio se dá quando ele se torna uno com o próprio caminho... quando ele e o caminho se tornam um só, quando as vozes, seja do Anjo ou do Demônio, cessam por completo e o coração do viajante experimenta a quietude interior. Nesse momento, o único som perceptível são os seus próprios passos.              

Um comentário:

  1. Olá meu bem!

    Muito legal você compartilhar suas experiência com todos!
    Preciso te passar umas dicas de formatação, truques simples, nos falamos domingo!

    Parabéns!

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